quinta-feira, 17 de março de 2011

Editor da Revista Mad Produz Jogo Infantil e Ganha Filme Sobre sua Vida

Ota anda bem preocupado esses dias. Sua reputação de maluco, nojento e grosseirão que não toma banho, duramente construída após 30 anos à frente da edição brasileira da revista de humor "Mad", está em jogo. 
Tem gente achando que ele está virando bonzinho. É que, recentemente, o velho e bom Ota, 56, deu para abandonar as melecas, as piadas infames e o politicamente incorreto para se dedicar a um singelo joguinho para crianças. Pior: trata-se de uma brincadeira on-line que quer ensinar história do Brasil de um jeito divertido às crianças a partir dos 5 anos.
Fãs se revoltam no Facebook (onde tem 638 amigos) e no Twitter (possui 4.714 seguidores). Na manhã de anteontem, um deles deu para xingar o Ota de "velho carola, beato e certinho".

Ota respondeu à altura: "Vai tomar no c*, seu filho da p&%$", para logo depois emendar que era uma brincadeira e explicar suas razões.
"Estou gostando desse negócio de trabalhar com crianças. Mas é uma fase. Depois eu volto a ser o velho Ota."
O velho Ota, quem já foi um adolescente conhece. Ele foi o responsável pela edição da revista "Mad" desde o seu primeiro número, em 1974, pela editora Vecchi.
Foi o responsável pela "Mad" quando ela trocou de casa para ser lançada pela Record, em 1984. Foi o responsável quando ela veio para São Paulo, pelas mãos da editora Mythos, em 2000. E também quando passou a ser lançada pela Panini, em 2008 (ainda em circulação).
Foi, enfim, o responsável por incutir na cabeça de milhões de adolescentes brasileiros --em seu auge, em meados dos anos 1970, a revista vendia quase 200 mil exemplares mensais-- sátiras de diversos aspectos da vida, do entretenimento, da política, das celebridades e da cultura popular em geral.
Orgulhoso, Ota considera que, nesses 30 anos à frente de "Mad", ele ensinou "as pessoas a pensar". Mas, demitido da revista pela quarta vez (todas as editoras acima o demitiram; a última foi há dois anos), precisou correr atrás de outras coisas. Aí surgiu a ideia de fazer o tal do joguinho infantil.
É por isso que Ota anda preocupado. E resume: "Hay que enternecer, pero sin perder la grossura jamás". 


Editor da "Mad" guarda desde gibis que fez aos seis anos de idade até páginas de quadrinhos de diversos jornais
No ano passado, Otacílio d'Assunção foi procurado para ser objeto de um documentário. "Ota, The Movie", em pré-produção, vai contar histórias engraçadas de sua vida, como o dia em que colocou fogo no próprio pé na redação do "Jornal do Brasil", ou quando, demitido da editora Vecchi, passou a vender camisetas no Rio com a inscrição "desempregado".

Mas a chegada do documentário desencadeou uma espécie de processo de revisão dos arquivos de Ota. Agora ele quer encontrar tudo: seus primeiros gibis, feitos aos seis anos, a revista que lançou em 1993, os santinhos da campanha em que se lançou para vereador em 1988 (com o lema "menos cocô nas praias") e muitas outras coisas que só ele lembra.
O problema é que ele vive no meio de um arquivo, em constante risco de despencar sobre sua cabeça. Ota é um colecionador compulsivo e seu apertado apartamento na zona central do Rio é um infindável corredor com jornais, revistas, caixas e uma papelada amarelada que mais parece um lote de pergaminhos alexandrinos.
Ota tem em sua sala, por exemplo, todas as cartas que leitores da "Mad" enviaram para a editora Record entre 1984 e 2000. "Não sei se tenho as da época da Vecchi, nos anos 1970", comenta.
Ota tem, em seu quarto do meio, coleções da "Mad" brasileira, americana, australiana etc, etc, etc. Sem falar nos quadrinhos de terror, de caubói, de super-heróis, de ficção científica, de aventuras na selva. "Vendi recentemente parte das réplicas, quero dizer, as que eu possuía duas ou três edições idênticas", esclarece.
No escritório, Ota tem cem CDs com fotos de mulheres peladas (não pornôs) que baixa todas as manhãs da internet e organiza em pastas. "Acho bonito", diz.



Postado Originalmente no site Folha.com

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