domingo, 2 de outubro de 2011

Tintin no Congo

Tintim no Congo, álbum criada pelo cartunista belga Hergé, foi a julgamento nesta sexta-feira (30), por supostos conteúdos racistas. 
O requerente, Bienvenu Mbutu Mondondo, decidiu pedir a proibição dos quadrinhos por considerá-los "ofensivos" aos congoleses, afirmando que seu conteúdo faz "propaganda da colonização". "É uma história em quadrinhos racista, que celebra o colonialismo e a supremacia da raça branca sobre a negra", criticou Bienvenu Mondondo na abertura do julgamento, que acontece em Bruxelas. "Vamos continuar tolerando esse tipo de livro hoje em dia?", questionou Mondondo, cujo processo contra a editora de "Tintim" é apoiado por um grupo antirracismo francês. Um dos advogados de Mondono, Ahmed L'Hedim, argumentou que o livro, escrito pelo celebrado cartunista belga Hergé em 1931, viola as leis antirracismo belgas. "Imagine uma menina negra de 7 anos descobrindo Tintim no Congo com os colegas de escola", sugeriu o advogado, criticando a descrição feita pelo livro de um homem negro, como sendo "devagar, submisso e estúpido", além de "incapaz de falar francês corretamente".

Por sua vez, a editora Casterman e os responsáveis pelos direitos de Tintim no Congo argumentaram que a história aborda uma ficção, escrita há mais de 70 anos, e deve ser interpretada como um registro daquela época. Os advogados argumentam que as aventuras do intrépido repórter no Congo Belga, atual República Democrática do Congo, deveriam ao menos exibir um aviso ou uma explicação sobre seu contexto histórico.
A editora Casterman e a empresa que detém os direitos comerciais do personagem, Moulinsart, alegam que a queixa ameaça a liberdade de expressão. "Se censurarmos Tintim no Congo, toda a literatura mundial via acabar nos tribunais, de Simenon até a Bíblia", disse um de seus representantes, Alain Berenboom.
Em 1930, o Congo representava um Eldorado para a Bélgica. O Congo, oitenta vezes maior que o país que o colonizava, tinha um subsolo extremamente rico. Nessa época, faltava mão-de-obra. Por conseguinte, Hergé devia fazer uma propaganda deste país.
A história foi publicada de 5 de junho de 1930 a 11 de junho de 1931, no Le Petit Vingtième, suplemento infantil do jornal Le Vingtième Siècle. Foi publicada como álbum em preto-e-branco em 1931, primeiramente pelas Editions du Petit Vingtième, depois republicado pelas Editions Casterman, que tomaram a publicação das Aventuras de Tintim com exclusividade.
Na modificação do álbum em julho de 1946, Hergé redesenha quase toda a aventura. Ele a colore, reduz de 110 páginas à 62 (padrão dos álbuns de Tintim) e altera a ideologia colonialista do álbum. Assim, a lição geográfica e histórica que dava Tintim num determinado trecho do livro, sobre "Vossa pátria, a Bélgica" encontrou-se substituída por uma lição de matemática. Hergé melhora as decorações, corta algumas partes e altera os diálogos para torná-los mais vivos. Os charutos do faraó e Tintim na América também foram redesenhados antes de serem coloridos.
Hergé afirmou mais tarde que para a criação de Tintim no Congo, da mesma maneira que para Tintim no país dos sovietes, ele vivia num meio cheio de preconceitos. De outro modo, a particularidade de Tintin no Congo é que o álbum é cheio de estereótipos da visão do Congo pelos europeus daquela época. Ele afirmou:
"Da mesma maneira quando desenhei Tintim no país dos sovietes, ao desenhar Tintim no Congo estava alimentado de preconceitos do meio burguês no qual vivia... Era 1930. Conhecia deste país apenas o que as pessoas contavam na época: 'os negros são grandes crianças, felizmente estamos lá!', etc. E desenhei os africanos de acordo com estes critérios, de puro espírito paternalista, que era o da época na Bélgica".
Além da Bélgica, a obra já despertou polêmica em países como Reino Unido, França, Suécia e Estados Unidos, onde diversos órgãos e autoridades públicas solicitaram sua retirada do mercado.

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